Redação Lado A | 10 de Maio, 2018 | 13h47m |
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Se nos tempos atuais os casais homoafetivos enfrentam inúmeras dificuldades para constituir uma união, nos anos de 1900 os obstáculos eram ainda maiores. No entanto, o casal de lésbicas Marcela Gracia Ibeas e Elisa Sanchéz encontraram um jeito inusitado de oficializar a união.
No ano de 1901, Marcela e Mário, que na verdade era Elisa Sanchéz, se casaram em La Corunã, na Espanha. A cerimônia foi celebrada na Igreja Católica de São Jorge e se tornou a primeira união homoafetiva dentro de uma instituição religiosa. Na ocasião, um casamento comum em que ninguém suspeitava, exceto a noiva Marcela, de que o casal na verdade se tratava de duas mulheres.
Elisa e Marcela se conheceram no anos de 1880, na mesma cidade em que se casaram. Segundo o escritor Narciso de Gabriel, Elisa trabalhava na mesma escola de magistério em que Marcela ingressou para seguir a profissão de docente.
O casal se apaixonou mas a família de Marcela proibiu o romance e a jovem foi enviada para Madri. Mesmo com a distância as jovens mantiveram contato e planejaram o casamento às escondidas, simulando que estavam separadas por uma briga.
A gravidez de Marcela por um homem que não revelou o nome deu a ideia de anunciar seu casamento com Mário, um primo de Elisa que na verdade estava morto. Emprestando a identidade do primo falecido, Elisa se apresentou ao lado de Marcela como Mário, vestindo terno e de cabelo curto, e logo pediu para se batizar na igreja e realizar o casamento.
Perseguição
Pouco tempo depois do matrimônio a farsa foi descoberta. O jornal “La Voz de Galicia” logo estampou na primeira página a foto das noivas e desencadeou uma grande perseguição da imprensa e da justiça. “Um casamento sem noivo”, dizia o jornal.
A notícia se espalhou para além das fronteiras espanholas. As cidades francesas e argentinas também comentavam o caso e esgotavam os jornais na busca de maiores informações sobre o casamento. Toda essa exposição nos jornais despertou uma perseguição ainda maior da Justiça.
O casal então fugiu para a cidade do Porto, em Portugal, para tentar evitar a prisão decretada. Sob o disfarce de Pepe adotado por Elisa, as duas simularam um casal heterossexual e nesse momento a filha de Marcela nasceu, o que reforçou o disfarce.
O sossego em Portugal, porém, não durou muito. Mais uma vez descobertas, a Justiça espanhola pediu ao Estado português que transferisse o casal para que cumprissem a pena em suas terras. No entanto, apesar de detidas em Portugal, a imprensa do país e a sociedade se solidarizaram pela história de amor e pouco antes da extradição elas foram absolvidas.
Temendo mais represálias, Elisa e Marcela decidiram fugir mais uma vez. Estavam absolvidas pelo crime da fraude do casamento mas não desejavam voltar à Espanha. Sob os nomes de Cármen para Marcela, e de Maria para Elisa, o casal foi viver na Argentina junto com outros imigrantes. Neste país, Elisa se casou com um homem dinamarquês que mais tarde denunciou a esposa por ela se recusar a consumar o casamento.
Filme e livro
O livro de Narciso de Gabriel, “Elisa e Marcela – além dos homens”, faz uma análise detalhada da história e do contexto jurídico, moral e religioso da época. Em algumas partes é possível identificar abordagens sobre identidade de gênero, com relação aos disfarces masculinos de Elisa; feminismo e relações lésbicas. Uma reflexão sobre hermafroditas também é descrita para se referir aos momentos em que Elisa tentou legitimar seu casamento alegando ser hermafrodita. Apesar de todo escândalo e perseguição, o casamento nunca foi anulado.
Um filme sobre a história de Elisa e Marcela será lançado em breve. A Netfliz já está gravando o longa dirigido por Isabel Coixet, na Espanha, palco da história em 1901. A diretora já estuda o caso de Elisa e Marcela há 10 anos e agora teve a oportunidade de produzir o filme que será gravado todo em preto e branco e contará com a atuação de Natália de Molina.
Confira o trailer de “Elisa y Marcela”
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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