Tininha Playground: se montar por lazer também é um ato político

Redação Lado A 31 de Julho, 2018 09h50m

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“É uma forma de lazer e satisfação de fazer algo diferente”, diz Antônio Carlos Carneiro sobre Tininha Playgroung. O auxiliar de enfermagem de 50 anos de idade dá vida à personagem que é uma forma política e divertida de discutir sobre gênero e sexualidade. Nascido em Curitiba, Carneiro dá vida à Tininha Playground desde 1998. Além de animar eventos, Tininha já rendeu uma premiação de Drag Queen perante a comunidade LGBTI.

Caracterizadas com as roupas extravagantes e maquiagens e cabelos exagerados, as drag queens estão mais expostas do que antigamente. Produções artísticas como a série RuPaul’s Drag Race estamparam a existências dessas artistas em tempos de maior discussões sobre gênero.

Além das drag queens, existem drag kings, isto é, pessoas que performam a masculinidade. Mulheres estão cada vez mais adentrando ao universo drag, comumente ocupado por outros homens. Se montar com maquiagens e roupas extravagantes para algum gênero não é mais exclusividade, em sua maioria, de homens que podem ter qualquer orientação sexual.

No caso de Tininha Playground, o próprio nome já remete à diversão. Ao se montar por lazer, Antônio Carlos traz alegria para as pessoas à sua volta, ao mesmo tempo em que se realiza pessoalmente. Além disso, a performance é uma forma de reafirmar as diversas identidades e possibilidades de existir. Na época em que criou a personagem, os movimentos LGBT passavam por transformações e reafirmações para ocupar espaços. Nesse contexto, Tininha Playgroung é uma forma de revolução, “um alerta contra o machismo cultural que se torna violento quando exagerado voltando-se contra a mulher”, diz. Uma drag se constrói com muita resistência e muita alegria.”.

Antonio Carlos não estabelece nenhuma orientação sexual e diz que se atrai por pessoas, independe do gênero. Para o auxiliar de enfermagem, Tininha Playground contempla sua liberdade em exercer qualquer gênero ou sexualidade. Segundo ele, a personagem “serve para fortalecer nossa personalidade. Fica mais fácil passar a mensagem assim e também valorizar o universo feminino. A performance nos deixa livre como artistas para valorizar e criar a arte trazendo o próprio lazer”. “Somos artistas performáticos e fazemos outros personagens no mundo da fantasia. Eu, particularmente, me sinto muito a vontade neste universo lúdico de diversão. Tudo para sorrir e levar alegria e a mensagem de respeitar todos os gêneros”, diz.

Apaixonado pela arte, o criador de Tininha Playground já participou de algumas manifestações artistas. Por isso, sempre manteve em paralelo com sua profissão as ações com Tininha. O técnico de enfermagem já participou de peças no tradicional teatro Lala Schneider em Curitiba, conferindo-lhe ainda mais propriedade para exercer o papel de Tininha. Atualmente, Antonio faz parte do grupo de teatro Lanteri, do diretor Aparecido Massi. Segundo Antonio Carlos, a mensagem de Tininha Playground é “como um grande parque de diversões e lazer para todos”.

O criador da caricata drag queen foi adotado na infância por uma família de Ponta Grossa. Dessa forma, cresceu sobre os ensinamentos desse núcleo familiar. Antonio Carlos foi para Ponta Grossa aos nove meses de idade e tão logo cresceu, voltou para Curitiba para começar seus estudos. Se formou em cursos técnicos e superiores da UFPR, ao mesmo tempo em que começou à dar vida à Tininha Playground.

Ato político, lazer e arte

Desde a Grécia antiga, principalmente com o nascimento do teatro os homens se vestem de mulher. Com a proibição de mulheres em participarem de espaços políticos e da arte, muitos homens performavam a feminilidade. Da mesma forma, mulheres se vestiam de homens em outros momentos históricos para poderem participar dos espaços sociais e da arte.

A partir do século 20, a arte das performances começou a ser associada à comunidade LGBT. Assim, nasceram as drag queens. A repressão social às diferentes sexualidades e identidades de gênero, faziam da drag queen um refúgio. Essa era uma forma de exercer os papéis sociais mais livremente e sofrer menos preconceito. Através da figura de drag queen, muitas pessoas trans começaram seus processos de transição exercendo a performance como uma forma de fugir dos julgamentos.

Desde os anos 90, após um período de desaparecimento das drag queens devido ao período militar, os meios de comunicação abriram novamente seus espaços para as performances. As drag queens, comumente associadas aos perfis cômicos voltaram a exercer seu papel político e artístico para abrir espaço para a comunidade LGBT.

Hoje, diversas identidades e representações são possíveis. Assim como Tininha Playground, uma personagem criada para divertir, existem outras que reafirmam o debate sobre gênero e sexualidade. Performar outro gênero como forma de lazer não deixa de ser uma forma de reafirmar as identidades possíveis. Esse é o caso de Tininha Playground, que contempla ao seu criador e reivindica direitos. Dessa forma, a drag queen permite a quem lhe dá vida incorporar e viver uma atividade que “vai muito além de diversão, sendo um grito de reivindicação do meio LGBT”, afirma Antônio Carlos. “Somos drag queens para definir uma forma de arte”, conclui.

 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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