História: a resistência de mulheres lésbicas durante o Holocausto

Raiza Luara 25 de Junho, 2019 18h01m

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Poucos são os registros sobre as mulheres lésbicas que enfrentaram as crueldades dos campos de concentração da Alemanha Nazista. Porém o livro “Se Isto é Uma mulher”, de Sarah Helm, conta um pouco da rotina dos campos de concentração exclusivos para mulheres. Se em Auschwitz existiam campos com homens e mulheres, judeus e também gays, em Ravensbruck existia um campo somente para mulheres.

Dentre as inúmeras judias que era confinadas, estavam algumas lésbicas. Os registros oficiais não demonstram os números exatos de mulheres lésbicas que foram cercadas. Alguns historiadores até afirmam que a perseguição e repressão maior era com homens gays, mas isso tem um motivo. Registros históricos apontam que as mulheres eram consideradas férteis e, mesmo as lésbicas, poderiam gerar mais crianças arianas.

Os estudos de Samuel Cowe Huneke, da Universidade de Stanford (EUA) ilustram ainda mais o cenário de opressão LGBT na Alemanha Nazista. O pesquisador descobriu que algumas mulheres lésbicas, se reproduzissem, ganhavam até medalhas pelo feito. Além disso, a lei da Alemanha na época condenava relações homossexuais entre homens, mas não citava em específico as mulheres.

Todo esse cenário de certa indiferença com as lésbicas, no entanto, não significa que elas estavam totalmente ilesas da crueldade dos nazistas. A hipótese de Huneke para o fato de que os nazistas perseguirem menos as mulheres lésbicas está ligada ao gênero. Segundo o professor, os nazistas consideravam as mulheres não como seres sexuais mas sim como reprodutivas. Por isso, para aumentar o número de crianças judias essas mulheres cis, lésbicas ou não, eram submetidas a estupros para reproduzir. Além disso, as mulheres não eram consideradas aptas a estar nas discussões de âmbito político. Por isso, a indiferença com relação à sexualidade lésbica se dava ao fato de os nazistas considerarem as mulheres como inferiores.

Dentro dos campos de concentração, as mulheres lésbicas eram inseridas na categoria associal. Junto com as prostitutas, elas aguardavam pelos maus tratos como estupro, trabalho forçado, a fome e o frio até acabarem dentro das câmaras de gás com centenas de outros presos, como aconteceu com Henny Schermann, presa em 1940. Sua ficha a descrevia como “lésbica libertina”. Dois anos depois de ser capturada, ela foi assassinada na câmara de gás.

Além do trabalho forçado nas fábricas, as mulheres lésbicas trabalhavam em bordéis. Esses espaços eram construídos para entretenimento dos nazistas. Dentro dos bordéis, mulheres lésbicas eram obrigadas a manter relações sexuais com homens gays para que “se corrigissem”. Mulheres trans também eram submetidas ao estupro e eram incluídas nos locais com outros homens, o que negava sua identidade de gênero.

Dentro ou fora dos campos de concentração, mulheres lésbicas na Alemanha nazista enfrentaram muitos desafios para viver. Sobreviventes como Anitta Eick, judia e lésbica, conseguiram fugir. Eick se mudou para a Inglaterra com a ajuda de uma namorada que conhecera antes da ascensão do regime nazista. Já Lotte Hamn, outra sobrevivente lésbica e autoria de Die Freudin (A Namorada) também resistia. Ela era responsável por encontros e eventos para mulheres lésbicas em 1920, pouco antes da ascensão do nazismo. Durante anos ela se esquivou das perseguições mas acabou sendo presa. Liberta depois de muita tortura nos campos de concentração, se tornou uma importante ativista LGBT+.

Antes da imposição do regime nazista de Hitler, a Alemanha tinha uma certa propensão a abraçar a diversidade. Muitos bares e locais específicos para LGBTs vinham surgindo e seguiam cada vez mais frequentados. Por outro lado, havia o Parágrafo 175 do Código Penal que condenada a homossexualidade, principalmente entre homens.

Com o início do governo nazista, começaram os tempos de extremo terror e perseguição contra LGBTs. Gays levados aos campos de concentração eram marcados com triângulos rosa em suas vestimentas, para que todos soubessem o motivo pelo qual eles estavam lá. O mesmo acontecia para as mulheres associais que eram as lésbicas, prostitutas, feministas, anarquistas e alcoólatras. A diferença é que o triângulo dessas mulheres era preto.

Enquanto não eram capturadas, as mulheres lésbicas faziam o possível para sobreviver. Algumas conseguiam fugir para outros países, mas as que ficavam tentavam esconder a sua sexualidade. Muitas delas encontravam outros homens gays para manter um casamento falso. Já outras, eram obrigadas a se casar com homens heterossexuais e ter filhos, negando para sempre a sua sexualidade lésbica.

Raiza Luara

SOBRE O AUTOR

Raiza Luara

Cientista social, professora, feminista, lésbica, redatora da Lado A e empreendedora.

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