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Sou filiado ao mesmo partido há 23 anos, ao Partido Socialista Brasileiro. Nesse quase um quarto de século, vi muita gente entrar e sair do partido, levantando bandeiras aqui e acolá, defendendo padrinhos políticos e personalidades diferentes da noite pro dia. Porém, o ideal do partido é, muitas vezes, deixado em segundo plano. Como aqueles famosos cristãos que não refletem as atitudes de Cristo.
Antes mesmo da tragédia de Foz do Iguaçu, onde um agente penitenciário matou um guarda municipal após uma discussão política, eu já estava pensando em como abordar o tema. E é difícil. Primeiro porque a internet e o jornalismo se tornaram cheio de haters e discussões nada racionais. E é para esse ponto que eu quero chegar: ao culto.
É comum na política brasileira o culto a governantes que nada fizeram além de sua obrigação enquanto servidores eleitos. Em todo lugar isso existe, e os grupos e o “pensamento político” prosseguem mesmo após a morte do indivíduo com os saudosistas: e essa é uma má notícia. Em um mundo abarrotado de fake news, desde sempre na política, a popularidade exerce força de atração de eleitores e apoiadores.
Tudo bem, uma eleição democrática inclui fazer as pessoas votarem em alguém, se mobilizarem. Seria simples, se não movimentasse bilhões em verbas públicas e fosse movida a interesses em cargos e “poder”. Sim, temos a massa que vota no candidato – às vezes por promessas feitas ao bem comum– e temos o séquito do candidato que espera ganhar algo em troca. Propostas? Conteúdo? Capacidade técnica? Representatividade? Infelizmente as pessoas desconhecem até com quem elas se relacionam diariamente, quem dirá em quem votam ou defendem.
Por isso o Brasil não tem evoluído. São três poderes onde o personalismo, o ego, os interesses pessoais ou de carreira prevalecem. O Judiciário, em que planos de carreira de concursados são auto geridos pelos servidores, há uma política diferente mas cheia de influências, e o Legislativo e o Executivo, onde elegemos os principais representantes que contratam pessoas de confiança. Lembrando que todo esse povo se aposenta e pesa mais ainda na Previdência. Junto à folha geral de funcionários, pesa tanto que o país não consegue gastar menos do que arrecada. Gastamos mais com o funcionalismo do que com Saúde e Educação. Não estou dizendo que a culpa é do povo, muito pelo contrário. Não há formação política e o jogo é “assim desde sempre”.
O que quero chamar atenção é para o culto e ao que a política se tornou. Virou um grande jogo de futebol, com torcidas, no qual se chega a matar e morrer. Política se faz no dia a dia e não apenas na hora do voto ou por partidos. Vamos rever as atitudes diárias, estudar mais, votar não em nomes mas em propostas, em planejamento. Votar em pessoas que pensam, em pessoas que propõem algo novo de fato e naquelas que assumem o que falam.
E a regra vale a mesma das religiões. Você é livre para acreditar no que quiser. Pregar é uma coisa, infernizar é outra. Mas conheça seu candidato, pelo amor de Deus. O céu e o inferno são aqui, mas talvez seja o purgatório mesmo – lembre-se disso. Teremos todos que lidar juntos com a escolha da maioria. Pare de justificar o dano colateral pelo bem maior. Vai todo mundo se ferrar junto. Pare de achar que está lacrando para eleger candidato, tenha argumentos.
E assim seguimos para mais uma eleição, sem nomes novos, sem esperança fora do populismo. Votamos (note que estou me incluindo) no menos pior. Em um dos que tem chance. Queremos tirar o presidente? Sim, nada pode ser pior do que ele (será?). Política é desgastante mesmo, talvez por isso o efeito manada – ou gado – seja tão eficaz. Já que temos que votar obrigatoriamente, vamos na tentativa e erro, quem sabe um dia não acertamos.
SOBRE O AUTORAllan JohanO jornalista Allan Johan é fundador da Revista Lado A, militante LGBTI e primeiro Coordenador da Diversidade Sexual da Prefeitura Municipal de Curitiba entre março de 2017 até maio de 2020. |
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