“Homens São De Marte, Mulheres São De Vênus”, o que implica a concepção de que os cérebros de homens e mulheres são programados diferentemente, colocou opiniões contra as outras por décadas — alguns vêem como uma balela sexista enquanto outros vêem como verdade irrefutável. Gina Rippon, uma neurocientista e “negadora de diferenças de gênero” (sim, pessoas chamam ela assim), quem vai palestrar no Festival de Ciência Britânico neste final de semana, acredita que livros como este que causam estas diferenças de gênero percebidas em primeira instância. De acordo com ela, as únicas diferenças entre nossos cérebros podem ser atribuídas às nossas mentes se adaptando aos estereótipos e adotando estas como verdade.
Rippon preocupa-se que o pressuposto de que homens são melhores em certas coisas (como o tipo de pensamento necessário para o campo de ciências exatas) previne mulheres de seguir carreiras em ciências, então ela está em uma missão de dissipar de todas as formas possíveis o que ela chama de “neurossexismo”. As afirmações dela fazem sentido. Não devemos sentar e aceitar o “fato” de que mulheres não se interessam em ciências, por exemplo, por consequência alguma “deficiência cerebral”. Do dia em que nascemos e somos designados um gênero por médicos e nossas famílias, este gênero define como seremos tratados pelos membros da sociedade. Mesmo se nascemos de pais que seguem os conceitos de igualdade de gênero, existem diversas diferenças inconscientes em como cada gênero é percebido. Faz sentido que isto, assim como os jogos e brinquedos específicos que somos estimulados a brincar, impactaria em quais pontos nossos cérebros são estimulados a desenvolver. à medida que envelhecemos, nosso gênero continua a ditar como somos tratados por todos que conhecemos, e isso por sua vez molda uma grande parte de quem somos como pessoas.
De acordo com Rippon, mesmo sendo socializados diferentemente, o fato que nossas mentes possam se adaptar a ponto mais “masculinos” ou “femininos” mais tarde na vida, prova que nós não nascemos presos em uma forma particular de usar nossas mentes. Ela notou um estudo recente no qual mulheres foram instruídas a jogar Tetris, o qual requer o uso de lógica espacial para organizar diferentes formatos de peças. Depois de três meses jogando, as estruturas cerebrais destas mulheres foram fundamentalmente alteradas e suas habilidades de cognição espacial aumentaram drasticamente, provando que nossos cérebros são mais maleáveis do que assumimos. Vale notar que outro estudo sobre o cérebro feito ano passado na Universidade da Pensilvânia sugeriu que mulheres tinham conexões mais fortes entre os dois lados do cérebro, enquanto homens tinham conexões mais fortes entre a parte da frente e de trás do cérebro. Aquele estudo afirma que mulheres são mais adeptas a manipular tarefas analíticas e intuitivas simultaneamente, enquanto homens seriam melhores em habilidades motoras complexas. Porém, de acordo com Rippon, estes estudos ignoram o condicionamento social que pode acarretar estas diferenças. “Existe uma grande quantidade de ciência imprudente sendo feita e muitas apresentações entusiasmadas exageradamente”, afirma a neurocientista. “Se você analisar apenas diferenças de gênero — e não suas experiências de vida — podes encontrar sim diferenças […] Pessoas que deveriam estar estudando estes assuntos escolhem não o fazer […] Isto não deve ser simplesmente explicado por explicações equivocadas em termos de características biológicas ‘imutáveis’, ou referências à ‘ordem natural das coisas’.”
Quando eu penso sobre diferenças entre homens e mulheres, primeiramente vejo o desenvolvimento emocional de uma pessoa. E freqüentemente vejo sendo afirmadas diferenças sobre a forma que homens e mulheres lidam com suas emoções, mas estas diferenças muitas vezes são baseadas nas expectativas culturais colocadas sobre nós desde a infância. E também concordo com Rippon que hipóteses rígidas, em frases como “a ordem natural das coisas”, são perigosas. Pensamentos como “garotas são complicadas” ou “garotos não choram” estão na raiz do comportamento sexista, tacanho e até abusivo. No fim das contas, todos vivemos neste mesmo planeta e temos muito mais em comum do que imaginamos.