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Conto de fadas de travestis e transexuais é um perigoso jogo de vida e morte

Redação Lado A 07 de Novembro, 2014 15h00m

Esta semana, uma bela transexual natural de Belém, há 8 anos vivendo em Curitiba, de 31 anos, Bruna Dutra (foto), ou Bruninha Delicinha, entrou para as estatísticas das pessoas mortas no mundo cruel em que vivem as travestis e transexuais. Hospitalizada na capital paranaense depois de aplicar silicone industrial, a polícia diz que foi uma auto aplicação, ela morreu no hospital depois de seu corpo entrar em colapso por causa do produto que há 30 anos não é usado para fins estéticos oficialmente mas que ainda é uma opção barata em clínicas clandestinas e em casas de bombadeiras, como são conhecidas pessoas que injetam esta substância para dar volume e contornos.

Bruna sabia dos riscos, ela mesma já havia aplicado silicone em outras meninas. Mas nem todas se sujeitam ao silicone industrial, Jeanny Bastos, por exemplo, outra transexual que vive seu conto de fadas, passa horas na academia para desenvolver suas curvas. Todas precisam tomar hormônios femininos, Jeanny toma ainda muitos suplementos para alcançar seu corpo perfeito. Ela tem prótese de silicone nos seios, fez cirurgias plásticas no rosto e corpo e não se arrisca em aplicar o silicone industrial nas bombadeiras.

Há 4 anos, Vanessa dos Anjos, 20, hoje vivendo seu conto de fadas na França, nos contou que quase morreu ao se submeter a um procedimento feito com Bruninha, quando tinha apenas 15 anos de idade. Com porte de modelo, ela já aplicou a substância cinco vezes mas hoje jura que nunca mais irá recorrer ao método. Além de doloroso, durante o processo aplicado com uma grossa agulha, a pessoa precisa ser amarrada com cordas ao longo do corpo, para o silicone não sair do lugar. Por uma semana, os movimentos devem ser mínimos para não comprometer o resultado.

Vanessa nos conta que seu organismo rejeitou o produto, e ficou quase um mês para se recuperar. O silicone provocou um processo inflamatório que a deixou quase sem poder andar. Ela foi ao hospital e queriam amputar a sua perna, conta ela que diz que fugiu para não perder a perna depois que o líquido foi drenado no hospital. Ela contou ainda que mesmo depois do susto aplicou o produto por outas quatro vezes com outra pessoa mas que seu organismo o rejeita sempre e o resultado não dura. “Agora não tenho mais coragem”, diz ela que espera se casar e se tornar uma cidadã europeia.

A grossa seringa para muitas é a varinha de condão, a fada madrinha é a prostituição que as retira de uma vida familiar sem apoio e conturbada, muitas no interior em situação humilde, e as proporciona uma renda acima muitas vezes da média, muitos luxos, que dificilmente poderiam alcançar sem estudos. A bruxa má pode ser a sociedade ou as pessoas que ganham muito dinheiro, apresentando a possibilidade e emprestando verba, a altos juros, para que elas possam realizar seus sonhos.

Ser mulher para elas, travestis e transexuais, não é um opção, elas se sentem mulher por natureza e por isso possuem o desejo imediatista de conseguir seu sonho. Os custos são altos, um trabalho comum jamais, as levaria a alcançar seus objetivos enquanto jovens. No mercado do sexo porém a concorrência e os padrões de beleza exigidos as jogam para o risco conhecido mas ignorado de se plastificarem de forma clandestina. O governo e a sociedade fecham os olhos: não se discute o tema e não são oferecidas outras opções. Resta para muitas a marginalidade e a morte precoce certa, seja em uma disputa territorial da prostituição, envolvimento com drogas, transfobia, ou nas mãos de uma bombadeira. Há raras exceções, mas nem todas podem contar com o destino.

 

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa


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