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Aos cinderelos de plantão: Já está disponível a nova versão do príncipe encantado

Bruno Uerba 12 de Junho, 2015 15h43m

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O que mais tem acontecido é isso. “As princesas” caíram no conto das bruxas, morderam a maça e estão desencantadas, jogadas no chão, perdidas num sono profundo – esperando por um príncipe que nunca aparece.
 
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Aconteceu no metrô de Botafogo. É uma estação que integra as duas linhas do Rio de Janeiro (Norte e Sul) e, portanto, é uma das únicas onde ambas as portas se abrem tanto do lado direito quanto do esquerdo, ao mesmo tempo. 
 
Da plataforma onde eu estava havia um garoto que beirava seus trinta anos de idade, bonito na medida, corpo em dia, um rosto familiar daqueles que a gente acredita se parecer com umas trocentas pessoas. Notei que ele ficou bastante entusiasmado quando um loirinho – um pouco mais novo – apareceu do outro lado e ficou de pé na sua direção. Foi uma troca de olhares tão fatal que a cena pedia uma trilha sonora de novela. Alguns sorrisinhos sem graça daqui, bochechas coradas de lá, e sob suas cabeças, aquela fumacinha de desenho animado com a legenda: apaixonei. 
 
Depois de cinco minutos que pareceram uma eternidade, o trem que seguia em direção a Ipanema, finalmente surgiu. As duas portas se abriram e os príncipes iriam viver felizes para sempre, bem diante de nossos olhos. Eu, o rapaz de trinta, e outras centenas de pessoas ocuparam os vagões. Foi aquele corre-corre pra conseguir um assento enquanto ele era o único sujeito que desejava ficar de pé para receber o seu futuro amado – que não entrou no vagão. (Mais uma história daquelas em que a bela está adormecida e o príncipe não vem).
 
Fiquei com os olhos encharcados. Estava presenciando uma frustração amorosa bem à luz do dia. O rapaz estava roxo, desconcertado, sem acreditar no constrangimento que teria criado pra si mesmo. Um barulhinho irritante anunciou que as portas iriam se fechar. O loirinho começou a mexer no celular e nem hesitou numa despedida com os olhos. 
 
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Nos contos de fadas de hoje em dia, quase todos os pares são ímpares. O “X” da questão é que o feio quer o bonito, o bonito quer o lindo e o lindo se acha demais pra aceitar qualquer pessoa. Enquanto ninguém resolve essa matemática… Todos ficam sozinhos.
 
Aquele homem de linhagem, que montava um cavalo branco e que estava à procura de uma princesa que calçasse o sapatinho de cristal, foi durante um tempo, substituído pelo bonitão bem sucedido que poderia te buscar na porta de casa com uma Ferrari e um cartão de crédito sem limites, capaz de transportar qualquer um para a terra da magia. Traduzindo para a versão tupiniquim, seria aquele “garotão de Ipanema”: lindo, bronzeado, saradão, com cem milhões de seguidores no Instagram e uma promessa de que estar ao seu lado é mais interessante do que qualquer história de Walt Disney. Vai cair nesse conto?
 
Essa versão também já caiu por terra. 
 
Homem bonito e malhado é a coisa mais fácil. Encontra-se aos montes nas redes sociais, nas festas, nas esquinas de qualquer lugar sem importância. E hoje, basta ter um emprego para custear uma academia e um ciclo de anabolizantes. Nunca foi tão fácil ficar bem na fita.
 
Raro é encontrar alguém que vai comprar o nosso partido.
 
O príncipe encantado de agora é aquele que nos dedica um capítulo inteiro da história, é aquele gentlemen elegante nos gestos, que nos dá atenção, nos surpreende com pequenos detalhes que passariam despercebidos até pelos nossos pais. É aquela pessoa que consegue nos ler, sem que precisemos pronunciar uma só palavra. É o conforto espiritual compactado numa conchinha que não dá vontade de largar. É alguém que, mesmo depois de algum tempo, nos faz contar os minutos esperando a sua chegada do trabalho. É o homem que vai nos ajudar a resolver todos os problemas que a gente NÃO tem quando está solteiro – porque o amor acontece bem mais tarde, quando já viramos abóbora. 
 
O príncipe encantado é alguém que nos fará despertar… Despertar um fascínio pelas coisas mais simples, que nos deixará surpreendido pelo “de repente”. E de repente você só precisará estar preparado pra dizer SIM, sem aquela voz que fica gritando ‘Pra sempre’ na cabeça. O amor é muito humilde, tímido e precisa de leveza pra se estabelecer. 
 
E como faz pra encontrar esse príncipe? Volte para o seu castelo e destranque tudo. É melhor seguir o conselho de Chico Xavier, porque “A felicidade não entra em portas trancadas”.

 

Bruno de Abreu Rangel
brunorangelbrazil@hotmail.com
Blog: http://wwwbarbrazil.blogspot.com.br/

 

Bruno Uerba

SOBRE O AUTOR

Bruno Uerba

Bruno de Abreu Rangel é um celebrado escritor carioca e tem três livros publicados. Atualmente ele reside nos EUA e é colunista da Lado A desde 2014.

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