Residente em Ponta Grossa, Paraná, Guilherme é um jovem trans de 21 anos que enfrenta diariamente uma batalha em busca de algo que, mais que um objetivo, é um direito. Guilherme deseja fazer a mastectomia, cirurgia de retirada das mamas, mas pelo SUS o processo é burocrático. Tendo seu direito negado pelo poder público, o jovem promoveu em suas redes sociais uma vaquinha para reunir a quantia necessária. Em seu pedido, Guilherme objetiva arrecadar o valor de R$ 10 mil reais, dos quais já reuniu R$ 630,00 desde junho de 2017. “Por muito tempo as pessoas tentam me estudar, me entender e me dissecar para que compreendam o porquê de eu ser trans. Mas o quê isso tem a ver com elas? Por que a diferença é tão difícil de ser respeitada que precisa de tantas justificativas?”, descreveu o rapaz no site Vakinha, expondo as dificuldades enfrentadas por ele e diversos homens trans que lidam com a transfobia da sociedade e do Estado.
O Sistema Único de Saúde (SUS), oferece cirurgia de redesignação sexual desde 2008. Por outro lado, o procedimento para alcançar o direito à cirurgia é um tanto burocrático. A mastectomia, retirada das mamas realizada por muitos homens trans, é oferecida pelo SUS mas é muito questionada e considerada como um procedimento invasivo. São muitos os empecilhos colocados como obstáculos para os homens trans, mas a mastectomia é frequentemente realizada em mulheres com câncer de mama. O procedimento em clínicas particulares custam entre R$ 5 mil e R$ 20 mil reais, valor exorbitante que não cabe no orçamento de milhares de homens trans.
O SUS exige que o interessado no chamado “processo transexualizador”, seja homem ou mulher trans, passe por dois anos de tratamento psicológico antes de começar a hormonização. Se confirmado pelo psicólogo a real identidade de gênero do indivíduo, é emitida a autorização e ecaminhamento para cirurgia. A autonomia do indivíduo sobre seu próprio gênero fica assim condicionada aos preceitos de outrém.
Diante desse longo processo burocrático, que muitas vezes acarreta em situações constrangedoras e vexatórias, homens trans estão promovendo vaquinhas na internet com o intuito de angariar recursos para agilizar suas cirurgias. A presença das mamas causa sentimentos de disforia, ou seja, passa a ser um peso, um símbolo de um corpo ao qual não se pertence mais. Alguns homens trans conseguem ir ainda mais longe, passando por procedimentos de histerectomia, a retirada do útero. Outro fator preocupante é que no Brasil apenas cinco hospitais oferecem tais cirurgias.
No Facebook, é possível encontrar vários links de homens trans que divulgam suas vaquinhas. Além da mastectomia e da histerectomia, a comunidade médica no Brasil está desenvolvendo a cirurgia genital de homens trans. No país, esse procedimento é possível apenas na Universidade de Brasília (UnB), em caráter experimental. Enquanto isso, milhares de homens trans vêm lutando diariamente para conseguir seus direitos básicos, como qualquer outro cidadão. A sociedade e o Estado, com suas falhas burocráticas, tornam ainda mais difícil a vida e o exercício de cidadania de pessoas da comunidade LGBT, enquanto exibem o título de país que mais mata pessoas trans no mundo.
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