Estávamos de mãos dadas, ligeiramente tocando os pés na areia fofa, bem próximos ao calçadão da praia. Andávamos, sem rumo, apenas admirando o esplendor do espetáculo da natureza. Eu, muito distraído apenas absorvendo a brisa que me tocava, e minha namorada, que sempre adorou caminhadas sem rumo. Por puro prazer.
O andar lento me permitia observar, com pouca curiosidade, os turistas, que como eu, veneravam aquelas areias escaldantes de Matinhos. Mas, naquela tarde específica, meus olhos se fixaram em uma figura. Oportunamente minha namorada parou, extasiada, por encontrar uma amiga de Curitiba. Apresentou-me a tal garota, que meus olhos ignoraram. Eu só conseguia visualizar, fixamente, o rapaz provocante que estava parado na calçada, de pé, olhando para o horizonte. Seu corpo, sua pele dourada, seus olhos castanho claros, me hipnotizavam.
Quando ele percebeu que o encarava, virou seus olhos para mim. Senti-me constrangido, mas curioso. Ele abriu um sorriso malicioso. Não pude mais esconder meu constrangimento e abruptamente puxei minha namorada e desculpei-me com a tal garota de nossa cidade.
– Temos que ir, desculpa.
Antes de nos afastarmos muito, consegui virar-me um pouco para trás e percebi que ele ainda me observava. Com certeza havia percebido minha excitação em admirá-lo. Tive que agüentar a mais horrenda enxurrada de palavrões de toda minha curta existência, por parte de minha namorada, até chegarmos ao hotel.
– Quarto 501.
– Sua chave, Marcelo.
Finalmente entramos no quarto e eu corri ao banheiro e tranquei a porta. Molhei meu rosto, levantei a cabeça, e não mais reconheci a minha imagem refletida no espelho.
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