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Saldo negativo (em transas)

Redação Lado A 16 de Julho, 2010 21h48m

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Outro dia, no Twitter, estava comentando sobre assuntos diversos, leia-se, música, roupa e atualidades, quando vi um Tweet do editor de uma revista gay famosa perguntando para a galera se conhecíamos alguém que não transava. Ele explicou que a pessoa seria entrevistada para uma matéria da tal revista.


Como não estava fazendo nada mesmo, resolvi enviar uma pergunta: “Por qual motivo a pessoa não deve transar? Dependendo, me encaixo (sem duplo sentido).” Feito isso, recebi uma mensagem privada no Twitter com o e-mail do editor pedindo para eu entrar em contato.


E-mail vai, e-mail vem e eis que descrevi a seguinte situação: No momento estou solteiro e não sinto satisfação com o sexo sem compromisso. Minhas melhores transas foram com namorados, preciso de uma ligação afetiva para que o sexo ocorra de maneira plena. Já tentei fazer sexo com desconhecidos, mas não gostei porque parecíamos robôs, não rolou sentimento, não rolou aquela coisa de enlouquecer de tesão, arrancar as roupas e partir pra cima, parecia que não era sexo, era uma peça de teatro.


Depois de algumas tentativas durante o período de solteirice, constatei que realmente sexo por sexo não é bom para mim. Mesmo assim, confesso que às vezes fico a ponto de subir pelas paredes. Sexo é bom, necessário, mas se sei que não vou me satisfazer plenamente, então, pra quê sair de casa, pagar motel e me atracar com mais um robozinho na cama? Prefiro me satisfazer sozinho.


Às vezes queria ser mais desprendido de afeto quando o assunto é sexo, pois vejo que a maioria dos gays prefere usar e abusar de encontros com desconhecidos para satisfazer o desejo sexual. Penso que no ritmo em que as coisas vão, vou envelhecer com um saldo negativo de transas, mas logo me conformo porque sei que é uma escolha minha e que cheguei num ponto da vida em que qualidade realmente faz mais sentido do que quantidade.


Quando conto que estou há meses sem transar, as pessoas logo dizem que sou louco, já chegaram até a me perguntar: “você não é gay?” Triste saber que temos a imagem de promíscuos. Não sabia que o fato de ser gay significava que deveria transar como um coelho! Para essas pessoas costumo responder que sou de uma espécie diferente de gay, uma mistura do gay-pinguim, que é todo romântico no momento do acasalamento, com o gay-inseto, pro qual toda hora é hora de transar. Quando estou namorando, toda hora é hora.


Não recrimino quem faz sexo por fazer, mas com ou sem amor, o importante é usar camisinha sempre. Mesmo quando a transa rola com aquele namorado de anos a fio, afinal, algumas doenças sexualmente transmissíveis não se manifestam de uma hora pra outra e como o nome diz, são transmissíveis. Além do que, nunca se sabe se seu namorado anda pulando a cerca e transou sem camisinha com outro alguém. Melhor se precaver.


E é isso, não transo por opção, não sei até quando permanecerei assim e não tenho vergonha de assumir isso. Curioso pra saber se meu texto sairá na tal revista? Não sairá, mas ele foi reescrito e publicado numa revista bem melhor, essa daqui! Porque afinal, um texto é como um filho e não tinha porque abortá-lo. Resolvi, então, dividi-lo com você.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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