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Acordei hoje e liguei a tevê já com as imagens da catástrofe sem proporções que assola o Japão. O sexto maior terremoto registrado na história recente atingiu a região de Sendai, Noroeste do Japão, e em seguida veio o golpe final, um gigantesco tsunami que engoliu carros, prédios e tudo que encontrou pela frente, poucas horas depois do terremoto, não dando chance para a maioria das vítimas de procurarem um abrigo. Ainda veremos as imagens mais horrendas nos próximos dias, e saberemos a contagem de mortos e desaparecidos. Mas a terra rachou e com certeza a história do país dos meus ancestrais ficará marcada para sempre por este desastre.
O epicentro do tremor foi no mar, a mais de 100 km da costa, a uma profundidade de 10 mil metros, segundo os japoneses, e teve intensidade 8,9 na Escala Richter. Para se ter uma idéia, em 1995, o terremoto com epicentro na cidade de Kobe, que foi devastada, teve pouco mais de 6 mil mortos e marcou 7,7 de intensidade. O terremoto em si desta vez não matou tantos mas o Tsunami que veio rápido em seguida que fez muitas vítimas por toda a costa.
Eu morei 4 anos no Japão, entre os meus 15 e 18 anos, e lá tive alguns dos melhores momentos da minha vida. Entre os momentos ruins estavam aqueles que eu passei pelo terror de sentir um dishin, um terremoto. O Japão está preparado para este fenômeno, com treinamento e construções especiais mas quando a força da natureza é maior do que a prepotência do homem, temos catástrofes como essa. Quando eu morava no décimo primeiro andar de um prédio na região portuária de Yokohama, em Isogo, em 1996, senti um desses terremotos grandes, no mar, que fizeram eu acordar em pânico e sentir o chão se mover, seguido depois de baques que faziam as coisas no apartamento pularem. É como se houvesse uma força batendo por baixo do chão.
Até hoje tenho pesadelos e, acordado, às vezes, sinto o chão se mover. O terremoto é uma experiência que mexe com sua concepção de existência, pois não há como ignorar o fato de sermos, apesar de tudo, insignificantes. Nunca presenciei um tsunami mas pela experiência que tive cobrindo catástrofes brasileiras, como a enchente em Blumenau em 2008, dá para se ter uma idéia. A destruição é o menor dos problemas, pois nessa hora não se sabe por onde recomeçar. E nisso há algo de importante em relação ao japonês. A palavra Jishin (地震), terremoto, tem outro significado: auto confiança (自信). Por isso eu acredito que os japoneses se erguerão, apesar de toda a destruição, de Norte a Sul do país na costa do Oceano Pacífico. Gambetê! (Expressão usada para avocar forças, como “raça!”, para nós)
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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