Não seria mais um discurso do papa Bento XVI contra o casamento gay, nesta sexta-feira, no Vaticano, se não fosse um dos discursos pré Natividade mais importantes e não houvesse uma inédita proposta de aliança com outras religiões e até aos ateus. O papa, se dirigindo à Cúria Romana em seu último discurso do ano, convidou a todos para lutarem contra o que o pontífice chamou de temas essenciais de defesa da justiça, da paz, da família e da vida. Para o Bento XVI, estes temas são “leis naturais” e universais.
Desde que assumiu o cargo, Bento XVI vem obsessivamente condenando a homossexualidade e os ganhos de direitos da comunidade gay, publicamente, mas, desta vez, ele atacou os estudos de gênero e classificou estes estudos de “falácia” e manipulador da natureza divina já que consideram que o sexo de uma pessoa é determinado, na realidade, pela sociedade e educação. Para ele, “na luta pela família está em jogo a essência do ser humano”. O religioso afirmou ainda que reconhecer o casamento gay é rejeitar a família tradicional, o que em sua concepção faz com que “desaparecem as figuras fundamentais da existência humana: o pai, a mãe, o filho: as dimensões essenciais da experiência de ser uma pessoa humana estão desabando”.
Bento XVI elogiou ainda o trabalho do rabino da França, Gilles Bernheim, religioso ferrenho contra o projeto de legalizar o casamento e a adoção para os homossexuais em seu país: “Bernheim mostra como, de sujeito jurídico independente em si mesmo, ele se transforma necessariamente em um objeto, que é e tem o direito, e como um objeto de direito, pode ser obtido”. “Se até o momento percebíamos como a causa da crise da família a incompreensão sobre a essência da liberdade humana, agora está claro que o que está em jogo é a própria visão do ser humano, o que significa em realidade o fato de ser uma pessoa humana”, filosofou o papa.
Na semana passada, em sua mensagem para a abertura da Jornada Mundial da Paz, o papa chegou a afirmar que o casamento gay, assim como o aborto e a eutanásia, era uma ameaça à paz mundial. Para o próximo ano, o Papa já convocou em Novembro o “Ano da Fé” e parece que a caça às bruxas pode voltar. Pelo menos assim parece querer o cardeal alemão Joseph Ratzinger, o próprio papa Bento XVI, que por 24 anos coordenou a Congregação para a Doutrina da Fé, a versão “modernizada” do Tribunal do Santo Ofício, instituição católica que promoveu a Inquisição durante a Idade Média.