A nova abordagem do Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde para a população em geral neste Carnaval causou estranheza na internet. O vídeo, lançado hoje, faz propaganda dos esforços do Ministério da Saúde, com a citação de legendas com os dados de preservativos distribuídos, 500 milhões por ano, e, ao mesmo tempo, aborda o tema Carnaval e ainda toca em ponto polêmico ao usar as consequências da Aids como motivo para as pessoas usarem o preservativo, ou seja, o medo e a culpa.
A campanha tem legendas simultaneas e confusas, uma dos dados do ministério: “ 3,5 milhões de testes rápidos de Aids em 2012. 19 tipos de medicamentos oferecidos, 10 são nacionais. A Aids não tem cura.” E outra com o que é falado durante o vídeo, que começa com um grupo de pessoas dançando em uma festa de Carnaval de rua e imagens de pessoas dramatizando o texto em seguida: “Se proteger de um resfriado é mole; Se proteger de uma queimadura, é fácil; Se proteger numa relação, é tranquilo; Mas se na hora você se esquecer de se cuidar, o resfriado passa, a queimadura pode curar; Mas com a Aids a vida não é fácil; Você vai ter que conviver a vida inteira. Proteja-se. Use sempre camisinha. A vida é melhor sem Aids”.
Se antes as campanhas de Carnaval eram alegres, essa é séria. Um ponto positivo talvez, se não fosse a abordagem que afirma que é melhor viver sem a Aids, pois com ela a vida não é fácil, por isso as pessoas não deveriam se esquecer do preservativo, pois não é um resfriado ou queimadura. Bem, Aids é diferente de se ter o vírus HIV. Esse sempre foi o foco, o vírus. A Aids – desenvolvimento da síndrome que destrói o sistema imunológico – como fator medo não é usado nas campanhas brasileira há muitos anos. Por aqui, a testagem sempre foi uma das pegadas das campanhas, somadas ao uso do preservativo. O foco claramente mudou.
A campanha diz que se prevenir é tranquilo, um erro tremendo, pois está menosprezando o inimigo. Se previnir fosse fácil, com 99% da população sabendo que a Aids é trasmitida em relações sem preservativo, não haveriam novos infectados. A campanha cria a relação de responsabilidade, de protagonismo, mas, infelizmente, a vida não é cor de rosa assim. Dizer agora que é melhor viver sem Aids, é tão óbvio quanto desnecessário. E dizer que será preciso conviver com a Aids a vida inteira é uma simplificação enganosa, pois a pessoa convive com o vírus, às vezes até sem necessidade de medicamentos. Se for para colocar medo, que façam algo real e chocante de verdade, sem levantar valores que digam aos soropositivos: “era fácil não pegar e você se danou para o resto da vida”. “E quem nasceu com o vírus?”, indagou um espertinho na internet.
A campanha também ignora a população homossexual, apontada como a mais vulnerável na epidemia. Custava colocar um casal gay ao fundo na festa? Ou melhor, foi colocado um gay sim, o rapaz que vive há dois anos com o vírus (agora falado certo), que é homossexual, que está sozinho, triste, tomando seu remédio. Por que não usaram o ator que fez o casal heterossexual adolescente na balada? Esse talvez seja o pior e mais triste erro desta campanha.
Confira a campanha:
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Redação Lado A
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