Por Alecks Spake
Vejo que nunca como nos dias de hoje se falou tanto em ser empresário. A idéia de ter algo só seu seduz muita gente há tempos e sempre é de grande atrativo para as pessoas que, ou querem empreender em algo a sua maneira, ou que vêem no mercado uma oportunidade de crescer e fazer dinheiro.
Superficialmente, há muitos benefícios em ser dono do próprio negócio: teoricamente, você pode trabalhar a hora que desejar, pode ir quando quiser para o escritório. E se trabalhar em casa, melhor ainda, porque poderá assaltar a geladeira ou pedir um Mc Lanche Feliz na hora que quiser. E, realmente, o fato de ser dono de uma empresa implica em muitas regalias que qualquer pessoa “rica” gostaria de ter.
Mas, infelizmente, não é assim que funciona na prática. Trabalhar por conta própria exige muito autocontrole e muita disciplina, pois o dinheiro não cai “magicamente” na sua conta todo mês. Cada dia você deve levantar da cama e saber que deve matar um leão para conseguir ter seu dinheirinho para pagar as contas, comprar roupas novas, ir para a balada, dar presentes… E existem diversos por menores. Abrir uma empresa e mantê-la estável leva tempo (em geral, um ano), além disso, existe toda a questão burocrática de legalização empresarial, a conquista e fidelização de clientes em um mercado competitivo, a maturidade de separar as finanças empresariais das individuais, as contas a pagar e a receber… Isso quando o seu cliente não “esquece” acidentalmente de lhe pagar (ou, às vezes, some sem pagar mesmo) e atrasa todo o seu planejamento.
Tá, mas então, por que empreender? Isso tem muito a ver com realização própria, com vontade de mudar e de fazer diferença. É plantar uma idéia para o futuro. Gosto de comparar esse desejo de mudança com aqueles atos inflamados de ordem que tantas pessoas publicam nas redes sociais mas que nunca se concretizam pela simples preguiça ou medo de por em prática. Ser empresário talvez seja o mais alto exemplo de independência e autonomia que uma pessoa pode ter, pois ele vai de encontro a todos os preceitos comumente passados de ter um emprego e ter no final do mês um dinheiro garantido na sua conta corrente. É quase uma arte, um dom, que é dado a um seleto grupo de pessoas.
O empresário precisa ter visão para enxergar além, precisa ter faro para encontrar nas necessidades as novas oportunidades de negócio, precisa ter tato e empatia para saber como se relacionar e ler corretamente o desejo das pessoas. Ser empresário é mais do que vender um produto ou prestar um serviço, é entregar uma promessa de realização, é servir de ponte entre o mundo tateável e o mundo dos sonhos de uma pessoa, é tornar o imaginário de alguém mais próximo da realidade, por meio de um compromisso firmado.
Se você faz algo, e faz bem, tem idéias de como melhorar algo que já existe, ou de fazer de um jeito melhor e tem vontade de fazer acontecer: você já tem 70% do que é necessário para empreender. Procure a sua volta nichos de oportunidade e faça acontecer. Se você é cabeleireiro e sabe que o salão mais próximo fica a dez quadras da onde você mora, o que impede você de colocar uma placa de “Corto cabelo” na frente de sua casa e de fazer cartõezinhos para espalhar seu nome por entre conhecidos próximos? Se você sabe uma língua estrangeira e conhece pessoas que se interessariam em aprender, o que impede você de dar aulas particulares com elas? Se você sabe dançar algum ritmo diferente, ou então sabe desenhar, pintar, costurar, o que impede você de transmitir esses seus conhecimentos a outros, em troca de uma contribuição mensal?
Você verá que, a partir de um simples gesto, as coisas se encaminham quase que automaticamente e que quando você menos esperar, já estará com um nome, com clientes e até mesmo com parceiros na sua iniciação empreendedora. A partir daí você pode pensar em tirar um CNPJ, procurar uma contabilidade que lhe sirva bem, alugar um local para atender, de repente uma logo e algum tipo de publicidade para alavancar os negócios e demais necessidade que sua empresa possa vir a ter.
No final das contas, ter uma empresa é como ter um filho: ela precisa de atenção e de suporte enquanto é nova para poder caminhar sozinha mas depois que se ergue, é ela quem o ajuda a caminhar e a descobrir novos caminhos.
Alex Spake é contador, consultor financeiro e diretor executivo da Ideas for the Future Consultoria Empresarial