Wallyson Fernandes, 20, de Toledo, Paraná, tem uma história com marcas que, combinadas, ajudaram a dar cores a sua drag queen, Katarina Van Helsing. Ex militar, Wallyson descobriu sua paixão pelo mundo underground da noite gay quando ainda estava no Exército, onde conheceu o seu melhor amigo. Juntos, assistiram performances de transformistas e acompanharam o reality RuPauls Drag Race. Com a ajuda do seu ex, que tinha um salão, montou-se pela primeira vez e, aí, nunca mais parou.
Ele conta que o processo de descoberta da sua sexualidade se deve “ao vôlei e os amigos que fiz lá, assim como ao Exército e as pessoas que conheci enquanto servi”. Tudo começou quando seus pais se separaram e ele precisou se mudar para uma cidade de 5 mil habitantes. Lá, as pessoas o chamavam de gay por conta do seu jeito educado e delicado. Nesse mesmo lugar, foi ensinado que a sua feminilidade e o seu gosto por brincar de bonecas era algo errado e, por isso, sentiu-se forçado a entrar no time de futebol aos 12 anos.
Aos 15, desistiu de lutar contra quem ele era e começou a se relacionar com garotos pela internet. Nessa mesma época, saiu do futebol e migrou para o time de vôlei, onde fez amizade com muitos colegas de time homossexuais. O medo fez com que escondesse sua orientação sexual, pois não poderia deixar que sua avó se sentisse humilhada por ter um neto gay, pensava ele.
“Com 16 anos, acabei ficando com meu primeiro guri, um garoto do time que sempre pedia pra ficar comigo. Ele era bem assumido e bem resolvido e isso ajudou bastante”, conta. A saída do armário veio cerca de 7 meses depois, quando uma briga com sua melhor amiga acabou fazendo com que Wallyson perdesse a cabeça e contasse pra sua avó. Ela o aceitou, mas pediu sigilo para o bem do próprio neto.
Os DJs, o exército e as Drags
“Eu namorava um homem mais velho, eu tinha 17 e ele tinha 30. Ele era DJ e amava as drag queens. Foi ele quem me apresentou a RuPaul, mas eu não curtia, falava que era coisa de gay afeminado. Passados alguns anos, entrei no Exército e conheci meu melhor amigo gay, e fui posar na casa dele. O namorado dele estava vendo a “Escolinha de Drag” (Com Silvetty Montilla). Comentei que conhecia um que era Internacional, que via com meu ex. Começamos a nos montar, meu ex tinha um salão, tinha várias maquiagens velhas, apliques, e começamos a nos maquiar na brincadeira”, revela.
Amadurecimento
Wallyson comenta que o mundo drag o ensinou o que é ser homossexual na sociedade e como a arte transformista deve ser enxergada. Para ele, só é possível entender as duas coisas depois de desconstruir o seu próprio preconceito com a feminilidade. “Drag é uma arte, onde você faz e é um personagem, não quer dizer que você quer ser mulher. Expressar-se como drag é uma forma de não receber rótulos, você pode ser tudo o que quiser em uma pessoa só”, reflete.
Wallyson serviu no 33 bimec, em Cascavel, e afirma que o exército o fez reconhecer a necessidade do respeito por outras pessoas, assim como as noções de hierarquia e humildade.
Com relação a sua drag, Katarina Van Helsing passou por um processo de preparação de cerca de 3 meses, entre treinamento de maquiagem, poses para selfies, escolha de roupas e desfiles de salto. Sua primeira saída para a noite foi na festa que trouxe Alyssa Edwards e April Carrión, no final de dezembro do ano passado, onde foi montada para conhecer as queens, como presente de aniversário de sua mãe.
“Foi difícil manter-se em um salto a noite toda, com unhas grandes que atrapalham para fazer qualquer coisa e cabelo voando no rosto. A experiência foi ótima, era algo que queria muito mesmo experimentar, sair na noite daquele jeito. Eu me senti uma outra pessoa, totalmente livre, podia ser quem eu queria”, conta Wallyson. Seus planos, agora, são encontrar uma família drag e se prepara para a festa da Alaska, em abril. Essa será sua segunda saída montada.
Quer saber mais sobre a história de Wallyson Fernandes e Katarina Van Helsing? Clique aqui.
Por Lucas Panek. Lucas é redator da Lado A e autor da página do Medium “Não Faz a Frígida”.