Com fãs LGBT em todo o país, Inês Brasil fez muito sucesso nas redes sociais com suas performances exageradas e seus bordões em defesa do amor e da diversidade. Como qualquer celebridade instantânea, Inês saiu do foco midiático com a chegada de novos rostos na internet, espaço em que ficou famosa com a divulgação dos vídeos que fizera para entrar no reality show Big Brother Brasil. Aqueles que ainda seguem e acompanham a cantora ficaram estarrecidos com as últimas notícias de sua ídola. Circula nas redes sociais uma foto em que Inês Brasil aparece ao lado de Jair Bolsonaro. O deputado, membro do Partido Social Cristão, é declaradamente homofóbico e dissemina nas redes sociais o ódio contra a comunidade LGBT, defendendo a ditadura militar e fazendo apologia ao estupro e racismo. A imagem causa espanto por conter duas pessoas cujas realidades são tão distintas, uma vez que Inês sempre defendeu os LGBT`s, ao contrario de Jair Bolsonaro que, inclusive, muito criticaria uma pessoa como ela, caso tivesse a oportunidade.
Embora seja impressionante a junção de duas pessoas tão distintas numa imagem, pode-se dizer que os dois tem algo em comum. Bolsonaro tem mais de 20 anos de carreira política durante a qual quase nunca aprovou projetos e políticas para a população. Dessa forma, a única alternativa para manter os holofotes sobre si é chamando a atenção pelas polêmicas, o que também deu fama a Inês Brasil. Apagada da mídia, não negou uma foto com o deputado, mesmo que isso desse a entender certa conivência com as atitudes retrógadas do parlamentar. Do outro lado da imagem, Jair Bolsonaro aproveita a situação para maquiar sua opinião discriminatória posando ao lado daquela que já foi considerada uma musa LGBT, mesmo que isso lhe custe críticas de seus fãs e seguidores igualmente arcaicos.
A explicação publicada por Inês Brasil em sua rede social é a de que foi abordada pelo segurança de Bolsonaro, no aeroporto de Campinas, solicitando uma foto dos dois. Inês aceitou registrar a imagem sob o argumento de que “Eu poderia ter dito não, mas eu sou a favor do amor e quando uns respondem com ódio, eu respondo com amor e sempre responderei. Não sou a favor dele nem de político algum”, declarou a artista. Em resposta, alguns seguidores a criticaram: “Você poderia ter recusado educadamente. Ele é higienista. Você é mulher, negra, pró-gay: se pudesse, até de você ele se livrava. Ele sabe que #ASGAY são influentes e ditam tendência. Ele quer votos, Inês… O meu ele não vai ter. Vou descurtir sua pagina e espero que você reflita“, escreveu um seguidor, num discurso que não deixa de retratar a realidade. Bolsonaro sabe que, embora seja bizarro, possui muitos seguidores no meio LGBT, e sua foto com Inês seria uma forma de “fazer média” perpetuar sua carreira política por mais quatro anos.
Já vídeo publicado no mesmo dia da foto, no dia 27 de agosto, Inês Brasil tenta assumir uma postura neutra, mas defende que Bolsonaro não pode ser julgado: “Quem deve julgar é Deus”. Se a gente acaba de matar alguém, ou fala alguma coisa sobre o racismo, contra LGBT, o que for, ninguém deve fazer justiça com as próprias mãos […] E pelo que vi no avião, é que ele não tem nada contra os gays. E se você tiver alguma coisa contra, você fala: ‘Quem somos nós para falar alguma coisa?'”. Suas declarações falharam gravemente na imparcialidade ao afirmar que o deputado “não tem nada contra os gays”. Inês Brasil esqueceu-se que Jair Bolsorano foi contra uma cartilha contra a homofobia, lançada pelo Ministério da Educação, que ele chama de kit gay, ou como ele mesmo discorreu: “apenas a um material escolar para criancinhas, e cada um vai ser feliz como bem entender”. Bolsonaro postou o vídeo em suas redes sociais com a legenda indicando que ele e Inês Brasil são contra o famigerado “kit gay”, quando não necessariamente seja esse o conteúdo do vídeo. No final, Inês pediu para que Jair repetisse a frase “Viva os LGBTs”, e recebeu recusa. Jair disse apenas para cada uma ser feliz com bem entender.
Diante dos fatos, tudo indica que Inês Brasil assinou sua sentença de exclusão como uma das porta vozes LGBT. Declarações como a de Bolsonaro, que já disse publicamente que filho gay é falta de porrada, culminam no contexto de violência e opressão a que estão expostos vários LGBTs que morrem nas mãos de intolerantes. Inês que veio do anonimato e entrou para o rol da fama graças aos fãs LGBT`s, sabe mais do que ninguém sobre o suplício para conquistar o direito de existir numa sociedade intolerante e, enquanto mulher negra devia atentar para as diversas declarações machistas e racistas de Bolsonaro que, hetero, branco e rico, nunca passou por nenhuma dificuldade social ao longo da vida. Resta aos seguidores de ambas as partes considerar ingenuamente esse encontro como uma conciliação pacífica de promoção do respeito, ou, o que é mais provável, uma jogada de marketing para dosar uma proximidade com o publico contrario, mantendo seus holofotes.