Redação Lado A | 26 de Janeiro, 2019 | 13h20m |
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O Grupo Gay da Bahia, entidade que há 39 anos registra dados de violência contra LGBT+ no Brasil, divulgou seu relatório de 2018. Segundo os dados levantados, no ano passado foram computadas 420 mortes de LGBT+.
Os dados mostram que em 2018 os LGBT+ sofreram 320 homicídios, totalizando 76% dos casos de violência computados. Já os suicídios foram 100, totalizando 24% dos dados. Em relação ao ano de 2017 observou-se uma pequena redução no número de mortes. Neste ano em questão, foram computadas 445 mortes, recorde desde o início da contagem há 39 anos.
Segundo os dados, a cada 20 horas um LGBT é morto ou comete suicídio no Brasil. Os números colocam o Brasil como recordista no ranking de países que mais mata LGBTs no mundo. O relatório citou ainda que, segundo dados internacionais, no Brasil são mortos mais LGBTs do que em países onde existem pena de morte para homossexuais como na África e Oriente Médio.
O relatório também apresenta os números crescentes de morte nas últimas décadas. De 130 mortes em 2000, os números foram para 260 em 2010, 445 em 2017 e 420 em 2018. A pesquisa comparou com os EUA, onde a população é de 330 milhões de habitantes e morreram 28 transexuais. Já no Brasil, com 208 milhões de habitantes, morre um LGBT a cada 20 horas, resultando em 164 mortes de transexuais. Dessa forma, concluiu-se que no Brasil a chance de uma transexual ser morta é 9 vezes maior do que nos EUA.
Dos 420 LGBTs mortos no Brasil, 45,5% são gays; 39% são trans; 12,5% são lésbicas; 1,9% são bissexuais e 1,2% são heterossexuais. Esses últimos estão inclusos na pesquisa pois morreram por motivo de LGBTfobia, confundidos com LGBTs ou que, em alguma ocasião, saíram em defesa dessa população e foram mortos.
De acordo com os dados sobre os perfis das vítimas, 11% dos LGBTs eram menores de idade. Um deles foi um pré- adolescente de 12 anos. Vítima mais jovem que aparece nas pesquisas, cometeu suicídio devido ao bullying. A maioria das mortes é de pessoas entre 18 a 25 anos, que correspondem a 29% das vítimas. Outros 3,8% dos casos são de idosos, como um senhor encontrado morto aos 73 anos em seu apartamento em Salvador. As vítimas entre 18 a 40 anos somam 77%.
A maioria das vítimas, 58,4 %, eram brancos. Já as vítimas negras somaram 12,3% e as pardas 29,3%. A pesquisa apresenta uma hipótese para o número maior de vítimas ser de brancos. De acordo com o estudo, esse perfil provavelmente pertence a melhores classes socioeconômicas, portanto, estaria mais vulnerável a latrocínios. Enquanto isso, LGBTs negros ou pardos seriam oriundos de camadas mais populares da população. Assim, teriam habilidade para reconhecer fatores de risco e se protegerem. No entanto, fora do recorte da pesquisa que centraliza seus dados em vítimas LGBT, é sabido que o racismo estrutural faz da população negra a maior vítima de violência no geral.
Com relação às causas das mortes, o relatório demonstra a grande violência com que os crimes aconteceram. Somente com arma de fogo, a maioria dos casos, foram 29,5% das mortes. Com arma branca foram 23,6% dos casos, 5,2% por asfixia e 3,6% por espancamento. Já por pauladas foram 2,4% das mortes, 1,4% por apedrejamento e 9,3 % foram outras causas não especificadas. O que chama a atenção nos gráficos é o número de suicídios, que chegou a 23,8% e é a segunda maior causa de morte entre LGBTs.
O governo de Jair Bolsonaro (PSL) que assumiu seu mandato em janeiro deste ano, configura uma grave ameaça aos direitos LGBT devido às suas declarações e posicionamentos homofóbicos. O presidente já declarou que prefere “ter um filho morto do que gay” e que é “homofóbico com orgulho”. Tal ideologia se espalha entre milhões de eleitores que o elegeram, endossando o discurso de ódio contra as minorias.
Esse cenário tensiona a representação LGBT dentro dos espaços sociais na medida em que torna o discurso e, consequentemente as ações, cada vez mais violentas. A repressão contra o ensino sobre gênero nas escolas vem se intensificando com o respaldo do novo governo. A solução para a diminuição da violência contra LGBTs, inclusive, seria justamente a educação.
Por outro lado, de acordo com o relatório do Grupo Gay da Bahia, não se computou um aumento das mortes de LGBTs durante ou depois da campanha presidencial. Em relação ao mês de janeiro em outros anos, observou-se uma pequena diminuição nos casos de morte. No entanto, o discurso homofóbico e a reafirmação de preconceitos ainda são os principais fatores que podem resultar em mortes, principalmente violentas ou por suicídio.
O relatório População LGBT morta no Brasil – 2018 pode ser acessado no site do Grupo Gay da Bahia.
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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