Redação Lado A | 10 de Janeiro, 2019 | 12h15m |
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O ministro da saúde do governo de Jair Bolsonaro (PSL), Luiz Henrique Mandetta, declarou que as políticas públicas de prevenção da AIDS não podem ofender as famílias. Alguns dias após a posse de Bolsonaro e seus ministros, surgiram fake news sobre a Mandetta e as políticas públicas sobre AIDS. Os boatos diziam que, por se tratar de uma questão moral, o Estado não mais forneceria ações para prevenção e tratamento da infecção. No entanto, a verdade é que para o ministro, as iniciativas de prevenção devem ser realizadas com cautela. Segundo Mandetta, não pode haver invasão ao ambiente familiar por parte do Estado.
Mandetta disse ainda que precisará rever a situação do programa Mais Médicos, instaurado durante o governo petista. Para o ministro, a atual “linguagem” no que diz respeito à AIDS não está surtindo efeito. Por isso, é necessário rever a comunicação sobre o assunto. Para isso, Mandetta questionou se a solução seria instigar as famílias a debaterem sobre o assunto com os jovens e adultos.
Segundo o ministro, o governo pretende manter as políticas sobre AIDS e aumentar o seu alcance. Por outro lado, Mandetta afirmou que antigamente havia grande epidemia de AIDS. Com os tratamentos disponíveis, a população deixa de lado a prevenção. O ministro considera que muitos miniminizam o risco de infecções por doenças sexualmente transmissíveis já que o Estado fornece todo o respaldo para tratamento.
O constante diálogo e práticas de conscientização para prevenção de doenças sexualmente transmissíveis é importante. Porém, aparentemente não são prioridade nesse novo governo. O ministro Mandetta acredita que a família tem um papel importante na medida em que orienta sobre prevenção e uma sexualidade saudável. Por outro lado, sem a interferência do Estado, pouco se pode afirmar sobre a eficácia da conscientização pela família.
O discurso conservador sobre a orientação familiar vai de encontro com discussões sobre sexualidade e drogas. O presidente Jair Bolsonaro já declarou que não é a favor de educação sexual na escola. Segundo eles e seus aliados, a prática abre brecha para algum tipo de doutrinação ideológica e promoção do que eles chamam de “ideologia de gênero”.
No entanto, a escola tem um papel importante na conscientização para a prevenção. Com relação à família, não há garantia de que haverá diálogo sobre sexualidade e prevenção. Nesse núcleo há um grande conservadorismo que pode negligenciar o debate. A forma com o que o assunto de doenças sexualmente transmissíveis é tratado também resulta em uma relutância por parte da família que acredita que as doenças andam junto com comportamentos imorais.
Desde 1996 as unidades de saúde oferecem tratamentos para DSTs através da distribuição de medicamentos. Com a nova gestão, essa política pode sofrer alterações. Mandetta argumenta sobre o aumento no número de pessoas com alguma infecção contraída sexualmente. Para ele, as formas de tratamento prevenção da outra gestão geraram esse resultado. Por isso, segundo o ministro, deve-se “instrumentalizar a família” para debater sobre o assunto.
Para Alexandre Grangeiro, conselheiro da Associação Brasileira de Interdisciplinaridade de AIDS (ABIA) o atual governo ameaça as políticas de tratamento e prevenção. O Brasil é muito bem equipado com medicamentos e assistência médica para pessoas infectadas. Por outro lado, Jair Bolsonaro já anunciou que o novo ministro da saúde teria que cortar gastos. Somado a isto está a declaração do presidente em 2010 no programa CQC. Em rede nacional, o atual presidente disse que “o pessoal vive na vida mundana e depois vem cobrar do poder público um tratamento que é caro”. Nessa fala, ele se referiu aos portadores de doenças sexualmente transmissíveis.
Logo nos primeiros dias do mandato de Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde retirou do ar uma material para homens trans. A cartilha era intitulada “Homens Trans: vamos falar sobre a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis”. O material foi publicado em 2018 como forma de orientação para homens trans sobre prevenção de doenças.
Além da retirada da internet, o governo estuda retirar as mais de 23,5 mil cópias da cartilha que estão circulando. O material contém mais do que orientações de prevenção. Informações sobre gravidez, alterações no corpo, tratamentos hormonais e direitos dos homens trans no SUS também constam no material.
Um dos motivos pelos quais o material foi retirado seria uma prática sexual exposta na cartilha. O material contém informações sobre o uso do “pump”, um objeto usado para estimular o clitóris. Muitos homens usam a técnica que suga o órgão junto com tratamentos hormonais. Dessa forma, o clitóris aumenta e se aproxima da aparência de um pênis.
Para o ministro Mandetta, no entanto, o “pump” não é indicado pois pode causar traumas e lesões ao órgão sexual. Além disso o assunto não poderia ser abordado na cartilha pois é relacionado ao prazer sexual apenas. Por outro lado, alguns especialistas afirmam que o “pump”, por estar ligado ao prazer sexual, está relacionado com a saúde mental do homem trans. Orientações sobre o “pump” são muito procuradas por essa população, o que faz a informação na cartilha importante para evitar lesões e infecções.
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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