Vítima de skinheads que causaram terror em 2005 em Curitiba fala com a Lado A

Redação Lado A 31 de Julho, 2019 09h11m

Uma série de crimes amedrontou a população LGBT, negra e judaica curitibana no ano de 2005. Adesivos de cunho racista e homofóbico foram espalhados pelo grupo com frases como: “Mistura racial? Não, Obrigado” e “Homossexuais afrontam a natureza”. Agora, 14 anos após os crimes, o julgamento de um grupo que à época se intitulava de skinheads neonazistas acontecerá esta semana. A audiência está marcada para os dias 1 e 2 de agosto e deverá tratar dos crimes que vitimaram Willian Cezar Martins e Renan Lopes Lúcio, sendo esse último falecido.

Em 2005, um grupo de neonazistas formado por sete pessoas foi acusado de espalhar o terror pela capital paranaense. De acordo com o processo, em 18 de setembro de 2005, o grupo, junto com mais quatro pessoas também citadas nos autos, adolescentes, atacaram com socos e chutes e um punhal Renan Lopes Lúcio. Renan foi encaminhado para o Hospital do Trabalhador após ser deixado desfalecido pelos acusados no local do crime, a Praça Osório, no Centro de Curitiba.

Outros crimes

Após atacar Renan, que foi vítima dos skinheads por volta das 5h15 da manhã de 18 de setembro de 2005, o grupo fez outra vítima. Por volta das 7h15 do mesmo dia, o grupo atacou com xingamentos homofóbicos e agressões a vítima Willian Cezar Martins Cardoso. O rapaz também foi atingido com golpes de arma branca e os criminosos usaram um soco inglês durante as agressões. Uma terceira e quartas vítimas teriam sido atacadas ainda naquela noite.

Uma delas é João Carlos Soares da Silva, atacado na Rua Trajano Reis, na região do Largo da Ordem. Silva foi atacado com agressões por José Carlos Domingues Soares, o “Cazé”. Além disso, a vítima teve seus pertences roubados após as agressões.

Ação do grupo em Curitiba

Além das vítimas agredidas, entre elas, o grupo deverá responder pelo discurso de ódio que espalhou pela cidade na época dos crimes. As investigações apontaram que na casa de Eduardo Toniolo Del Segue, conhecido como “Brasil”, estavam elementos referentes à ideologia nazista. Lutador de jiu-jitsu, Del segue era considerado o líder do grupo na época. Na residência, a polícia encontrou bandeiras gravadas com o número 88. Segundo o significado desse símbolo, o número é uma referência a Heil Hitler, uma saudação nazista.

Os investigadores encontraram ainda camisetas, cartazes e adesivos que eram espalhados pela cidade. O material era colado em muros e postes com dizeres ofensivos contra judeus, negros e homossexuais. Apurou-se ainda que alguns materiais eram revendidos entre os membros do grupos e novos adeptos. Além disso, a polícia descobriu que na casa de “Brasil” eram realizadas reuniões do grupo de Skinheads.

Julgamento

Conforme relatou a vítima Willian Cezar para a Lado A, aconteceu um julgamento anterior ao que está marcado para agosto. Nesse dia, Eduardo Toniolo Del Segue, o “Brasil”, teria sido condenado a 9 anos de prisão. Por esse motivo, ele não deverá ser julgado novamente no julgamento do início do próximo mês. Renan não será ouvido pois faleceu em 2010.

No começo das investigações, entre setembro de 2005 e fevereiro de 2006, algumas pessoas foram presas. Mas atualmente, segundo relatou Willian, todos aguardam julgamento em liberdade. Willian relatou ainda que em determinado momento do processo, a acusação contra “Brasil” foi considerada lesão corporal leve. Isso pode ter contribuído para sua absolvição após a condenação inicial de nove anos de reclusão.

O julgamento que acontecerá nos dias 1 e 2 de agosto, segundo William, serão definitivos. Nessa audiência, os acusados poderão receber as penas pelos crimes cometidos há mais de 10 anos. Por outro lado, acusados de vários delitos, os réus poderão não receber penas de prisão devido ao longo tempo de julgamento desde a data do crime.

 

 

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