Revolta da Cafeteria Compton marcou a resistência da luta trans na Califórnia e completa 53 anos em agosto

Redação Lado A 12 de Agosto, 2019 10h51m

Ativistas trans de todo o mundo lutam para que um importante episódio de resistência não seja esquecido com o passar do tempo. Assim como Stonewall, a Revolta da Cafeteria Gene Compton foi um marco na luta pelos direitos de pessoas trans. Em agosto, a data é lembrada após 53 anos de luta.

Na década de 1960, a permanência de LGBTs em locais públicos era constantemente ameaçada. Não só o aparato social formava uma atmosfera de discriminação e preconceito, mas as leis também endossavam cada vez mais a violência contra a comunidade LGBT+. A população trans era a que mais sentia os efeitos de uma sociedade moralista e conservadora.

Eram poucos os lugares que permitiam a concentração de LGBTs no distrito de Tenderloin, em São Francisco, Califórnia. Alguns estabelecimentos não aceitavam gays e trans em seus recintos por medo de terem a imagem associada a esses grupos. Por isso, a comunidade LGBT+ comumente se reunia nos poucos locais que permitiam a sua presença. Esses espaços, muitas vezes inseguros, eram considerados marginalizados também devido à presença de trans e gays.

Em São Francisco, um dos poucos estabelecimentos que recebiam transexuais era a cafeteria Gene Compton. Impedidos de acessar outros lugares frequentados por gays, as pessoas trans procuravam seus próprios espaços em outros bares e estabelecimentos da cidade. A Compton, apesar de ser muito frequentada por trans, temia a repressão da época e tentava evitar esses clientes. Para isso, chamavam a polícia, o que desencadeava uma série de manifestações e tumultos.

Os anos de 1960 marcaram o início de novas ideias e movimentos de liberdade. Os assuntos sobre sexo começavam a ser mais discutidos, e a comunidade LGBT também começava a ganhar mais força. Por outro lado, a repressão era ainda muito forte e as minorias sociais entendiam que tinham um longo caminho de luta a percorrer.

O motim de Compton

Na tentativa de evitar clientes trans e para apartar um possível tumulto, os responsáveis pela cafeteria Compton chamavam a polícia no local. A cafeteria era um dos poucos estabelecimentos frequentados por transexuais, que muitas vezes eram impedidos de frequentar até mesmo locais públicos. A repressão e o conservadorismo da época, somados ao preconceito social, fazia com que os espaços se fechassem cada vez mais para transexuais.

Em 1969, quando aconteceu a revolta de Stonewall em Nova Iorque, a motivação era a repressão policial que abusava de LGBTs  e principalmente pessoas trans. Na cafeteria Compton não foi diferente. Durante uma abordagem abusiva dos policiais no verão de 1966, uma transexual se recusou a ser presa. Em consequência da repressão, a reação dela foi jogar uma xícara de café no rosto de um policial. Não se sabe ao certo qual foi a data de início dessa revolta. No entanto, a atitude daquela transexual que reagiu à opressão desencadeou uma série de protestos.

Outras pessoas trans, travestis e drag queens se reuniram em meio ao tumulto. Na época o crossdressing, isto é, pessoas consideradas do sexo masculino que usam roupas femininas, era proibido. Diante dessa e de outras repressões, cada vez mais pessoas trans entraram na revolta. Iniciada dentro do bar, a revolução se espalhou pelas ruas de São Francisco.

Apesar da importância histórica do episódio para a comunidade LGBT+, os jornais da época não cobriram a ação. Além disso, os registros da ocorrência policial da época não existem mais e a repressão tentou apagar essa história. Por outro lado, muitas pessoas trans relembram e são gratas pelas pessoas que lutaram contra a opressão naquela época. Por isso, o episódio da Revolta da Cafeteria Gene Compton ficou conhecido como um marco da luta LGBT+ na Califórnia.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa


COMENTÁRIOS