Redação Lado A | 24 de Julho, 2014 | 23h01m |
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Então começou um estranho jogo de achar culpados. O Ministério da Saúde afirmou que o aumento foi devido às mudanças e incremento do sistema de testagem, principalmente entre os grupos ditos vulneráveis: gays, transexuais, usuários de drogas e profissionais do sexo. O aumento do acesso ao teste foi de 32%, segundo o ministério, o que explicaria o aumento brasileiro. E afirmou ainda que outro motivo seria a obrigatoriedade da notificação de testes positivos, desde o ano passado.
Mas o movimento gay, que antes discordava dos dados ou tinha receios de sua veracidade, fez coro ao afirmar que os dados são reais e culpa é da política de saúde do governo para a Aids que cortou verbas de organizações e cedeu aos caprichos dos evangélicos, barrando campanhas específicas de prevenção, projetos e programas educacionais sobre orientação sexual nas escolas. E, claro, em momento eleitoral, este debate não interessa para o governo e ficou por isso. Por outro lado, o governo deve abrir a torneira e acalmar os ânimos e abafar o escândaloso número.
O Brasil, que já foi referência em combate à Aids, está em um momento crítico. Pioneiro em tratamento amplo para portadores do HIV, corajoso a ponto de quebrar patente de grandes laboratórios, não tem agido com rigor contra a epidemia ultimamente. Chegamos ao patético ponto de anunciar que estávamos perto da cura da Aids, o que não passa de uma longínqua ilusão.
Há gente morrendo, gente se infectando todos os dias, a cada alguns minutos, mas a Aids virou troféu político, colheram os frutos e abandonaram o programa que era “exemplar”. A realidade é que o sistema de acesso à saúde incentiva as pessoas a desistirem do tratamento e não procurarem ajuda, faltam insumos modernos, tanto na prevenção quanto no tratamento e sobra hipocrisia para tratar o tema abertamente. A Aids está vencendo e não importa de quem é a culpa. Importa apenas que estamos perdendo mais tempo a cada dia para uma doença que se multiplica de forma exponencial. Enquanto nos preocupamos com a reputação de grupos ou de programas, esquecemos dos seres humanos que vivem com o HIV ou dos mais vulneráveis que vão se infectar.
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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