As abordagens sobre gênero e diversidade pela mídia no Brasil estão sendo atacadas por fundamentalistas. Atrações como a novela A Força Do Querer, da Rede Globo, em que aparece um personagem transgênero é um exemplo de que esses assuntos estão cada vez mais próximos da massa, sendo exibidos em horário nobre.
Tais retratações das minorias levantaram a ira de conservadores como o Deputado Federal Victório Galli (PSC-MT). Representando a Frente Parlamentar Evangélica do legislativo, Galli apresentou o projeto de lei 8674/2017 cujo objetivo é censurar as exibições com conteúdos que o mesmo classifica impróprios. Entre as 6 da manhã e 22 horas, cenas de violência, nudez, sexo, drogas e, claro, diversidade sexual e de gênero estão entre os proibidos pela lei do deputado, que alega a proteção das crianças com seu projeto. “Essa novela que está passando, infelizmente na Globo, está sendo faculdade aberta para ensinar tudo aquilo que não presta, é imoral e antiético. Tem a ideologia de gênero com uma personagem que é mulher e quer ser homem. E não só isso, está ensinando a ser bandido, a montar quadrilha e a esconder armas. Uma afronta àqueles que de fato querem construir sua família com valores morais”, decalrou o deputado à Rádio capital FM, de Cuiabá.
Seguindo a mesma linha conservadora, os deputados Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e Pastor Marcos Feliciano (PSC-SP) apóiam o projeto de Galli. Há muito tempo esses parlamentares fazem parte da bancada evangélica, responsável por atrapalhar o avanço de políticas públicas em prol das minorias, principalmente, para a população LGBT. Para Feliciano, que outrora criticou a Rede Globo por outros conteúdos que considera impróprios, “A Rede Globo, em parceria com as instituições do crime organizado, está oferecendo curso de gerenciamento de boca de fumo, traficantes, golpes em geral, tudo isso gratuitamente”.
Jair Bolsonaro, muito conhecido por suas declarações polêmcias de cunho racista, homofóbico e machista, também fez sua contribuição às críticas contra o entretenimento que retrata minorias. O deputado usou, de forma descontextualizada, os dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) para sustentar o argumento de que a exibição de conteúdos como a novela A Força do Querer influencia negativamente as crianças. “Segundo o Pisa, 70% dos estudantes da nona série do ensino fundamental no Brasil não sabem realizar uma regra de três simples. Outros nem sabem o que é uma regra de três. E outros 70% não sabem fazer a interpretação de um simples texto. Rede Globo, não prejudique nossa tão combalida educação. Respeitem a família brasileira. E, acima de tudo, respeitem as criancinhas”, declarou o parlamentar em sua visível dificuldade matemática e intrepretativa.
A censura midiática quando da retratação humanizada da vida de milhares de LGBT’s que se escondem, é característica de modelos autoritários de sociedade. Em 2013, a Rússia aprovou um projeto de lei que proibiu a exibição da “propaganda gay” na TV aberta, e ainda, proibiu o que chamam de “ofensas religiosas”. Esse contexto explica a profunda ligação entre censura e conservadorismo religioso. A lei foi aprovada por cem por cento dos parlamentares e, quando em vigor, prometia multar em valor equivalente a R$680 mil reais qualquer veiculação de conteúdo com “relações sexuais não tradicionais”, fosse na televisão, internet ou qualquer outro meio de publicidade. Em 2017, a Corte Européia de Direitos Humanos (CEDH) condenou a Rússia pela lei que proíbe os conteúdos LGBT’s. Segundo a Corte “Ao adotar tais leis, as autoridades reforçaram o estigma e o preconceito e encorajaram a homofobia, que é incompatível com os valores de uma sociedade democrática.” O parlamento russo, no entanto, se defende alegando que a lei impede que a mídia crie “uma impressão deformada de equivalência social entre relações de casais tradicionais e não tradicionais”.