Redação Lado A | 05 de Outubro, 2018 | 11h11m |
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Nesta quarta-feira, 3 de outubro, um crime chocou a comunidade LGBT de Curitiba. Cacá, como era chamado pelos amigos, José Carlos de Oliveira Mota foi encontrado morto, amarrado nos pés e mãos, envolto em um cobertor, dentro do armário de seu apartamento no Centro da cidade. Ele foi golpeado na cabeça até ter traumatismo craniano, a provável causa de sua morte.
Cabeleireiro, homossexual, de 57 anos, morto em mais um crime comum em nossa sociedade: levou um estranho para casa. Dormiu com o inimigo. A despeito de todo o perigo que se colocou – ou o colocaram ao analisarmos que sua homossexualidade o botou vulnerável a uma solidão e depressão – temos um assassino que por três vezes citou um candidato que despreza os homossexuais e crimes como este. Um homossexual assumido morto em um armário, nada mais chocante para os tempos de discursos conservadores que vivemos.
Por volta das 6h da madrugada, os vizinhos ouviram barulhos. Ao meio dia, uma amiga que estranhou a sua ausência foi até o seu apartamento e foi atendida por um homem estranho sem camisa que disse que Cacá havia saído para comprar cigarro. Era possível que Cacá ainda estivesse vivo. O homem flertou com a mulher e mostrou suas tatuagens, ela o repeliu e saiu do local com dúvidas sobre onde seu amigo estaria.
À tarde, após as 16 horas, quando trocou o turno dos porteiros, uma mulher chegou dizendo que iria cortar o cabelo com Cacá, acompanhada de um homem. O porteiro tentou contato com o apartamento mas não obteve resposta. Pelo aplicativo de mensagem avisou Cacá que depois respondeu de maneira e com palavras fora do usual, com erros de Português e intimidade excessiva, dizendo que não atendeu o interfone pois não estava bem. Os dois visitantes haviam ido embora, mas o homem saiu e voltou acompanhado dos dois. O síndico foi avisado. Pelo aplicativo de mensagens, o homem que se passava por Cacá disse que esta fazendo uma negociação com aquelas pessoas, se referiu a si como afilhado. O suposto Cacá diz “Viva Bolsonaro”, e em seguida: “Amigos pregando Bolsonaro”, às 17h03, para o porteiro.
Em seguida, os três saem com mochilas e pertences de Cacá. O cachorro de Cacá, Billi, da raça Chihuahua, estaria em uma caixa – a mulher disse que iria levá-lo ao banho. A amiga retorna após as 18h. A polícia é chamada e o corpo encontrado. O suspeito do crime retorna por volta das 23h, vestido com chapéu e casaco da vítima, a polícia é avisada. A amiga e o porteiro ouvem o homem perguntar pelo interfone sobre Cacá e ao dizerem que ele foi encontrado morto o homem diz novamente: “Viva Bolsonaro”.
Em contato com o telefone de Cacá, o assassino se passa novamente pela vítima. Dessa vez, ele pede dinheiro emprestado para a amiga. É marcado um local para a entrega: na Praça Santos Andrade, em frente ao prédio da UFPR. A polícia prende o homem que estava armado com um facão. Por isso, a amiga seria certamente assassinada por tê-lo visto no apartamento da vítima. O homem é detido em flagrante no mesmo dia do crime. A outra mulher que saiu com as coisas de Cacá é detida no final da tarde da quinta feira. Não divulgamos mais detalhes para não atrapalhar nas investigações. O cachorro foi encontrado com a vizinha de Cacá. Billi não chegou a ser levado pelos bandidos.
A foto da esquerda é do WhatsApp do porteiro, a da direita é do assassino, no momento de sua detenção.
A Lado A conversou com o porteiro do prédio, policiais e com amigos de Cacá. Segundo contou o fundador da revista, o jornalista Allan Johan, atual Assessor das Políticas da Diversidade Sexual da Prefeitura de Curitiba, que acompanha o caso, o delegado responsável do caso afirmou que, por se tratar de crime em investigação, não se pode revelar detalhes. Indagado por ele sobre a suposta obsessão do suspeito pelo candidato Bolsonaro, o delegado afirmou que acredita que o motivo do crime não esteja ligado a este fato. O delegado reiterou que apenas se pronunciaria na segunda-feira sobre o caso.
Em uma semana tensa por conta da política e diversos coros homofóbicos dizendo que o candidato líder das pesquisas vai matar homossexuais, a comunidade está em pânico. Nossa intenção não é aumentar este sentimento, mas relatar os fatos mais próximos da verdade. Este é nosso compromisso com a comunidade LGBT e o jornalismo.
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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