50 anos da Revolução de Stonewall e o ativismo LGBT: a luta continua

Raiza Luara 28 de Junho, 2019 15h40m

COMPARTILHAR

TAGS


A Revolução de Stonewall é conhecida como o início da luta LGBT+ no mundo. No dia 28 de junho de 1969, LGBTs que frequentavam o bar Stonewall Inn, em Nova Iorque, resistiram a uma forte repressão contra a diversidade. Naquela madrugada, uma grande reação aconteceu durante uma invasão ao bar frequentado por LGBTs.

Durante esses 50 anos de luta, muitas conquistas para a comunidade LGBT+ foram alcançadas. Não só nos EUA, mas em outros países do mundo as pautas LGBT avançam a cada dia mais. Diante da forte repressão social, ativistas por todo o mundo lutam a cada dia por mais cidadania e igualdade. No entanto, 50 anos depois do evento que foi considerado o início do movimento, a luta não pode parar.

Na época da Revolta de Stonewall, a homossexualidade era muito condenada socialmente. Pela lei, pouco antes do acontecimento, relações entre pessoas do mesmo sexo eram crime. O mesmo valia para homens “que se vestiam de mulher”, ou qualquer manifestação que se referisse à diversidade. Essa lei vigorou até 1962 e criminalizava os LGBTs em todo o território dos EUA. Em Nova Iorque, essa lei caiu apenas nos anos de 1980.

A maioria dos frequentadores do bar Stonewall Inn, no bairro East Village, eram LGBTs que viviam marginalizados. Gays, lésbicas, transexuais, drag queens e travestis se encontravam de forma discreta no Stonewall Inn. Apesar de não ser mais crime a homossexualidade no país, a pressão social e perseguição do governo de Nova Iorque ainda existia.

Na madrugada de 28 de junho, mais uma invasão policial aconteceu dentro do bar. Em reação à truculência da polícia, que levou treze pessoas detidas, uma multidão lutou contra a repressão. Travestis e transexuais foram tratadas de maneira vexatória e obrigadas a entrar na viatura da polícia, o que foi impedido pelos manifestantes. Fora do bar, uma multidão lutou contra a repressão policial e desde então o mundo conhece a Rebelião de Stonewall como o marco da luta por direitos para os LGBTs.

Em 2015, o bar Stonewall Inn foi considerado monumento histórico pela Prefeitura de Nova Iorque. Hoje, o bar continua em funcionamento e todo o bairro ao seu redor é destinado a lembrar a luta que se iniciou em 1969.

Conquistas

Enquanto a luta por direitos se iniciava em 1969 nos EUA, no Brasil, o cenário era diferente. Em tempos de ditadura militar, as lutas pela diversidade ficaram defasadas devido à forte repressão. Com o fim dos tempos sombrios de violência e opressão no Brasil, os movimentos puderam seguir as pautas mundiais de emancipação LGBT+.

A resistência durante os anos de 1960 e 1970 no brasil cresciam tal qual nos EUA e outros locais do mundo. Aqui também eram realizados movimentos de forma clandestina, sempre sobrevivendo à margem da sociedade e da moral brasileira. Muitos bares e boates para LGBTs se formavam no entorno da sociedade e crescia a vontade de superar os preconceitos e humilhações deixadas pelos tempos de repressão.

Nos anos de 1980, a epidemia da AIDS colocava os LGBTs mais uma vez em situação de marginalidade. Para a sociedade da época, a doença era uma “peste gay”, isto é, acreditava-se que estava somente no meio LGBT+. Da mesma forma, a própria homossexualidade era tratada como uma doença.

Somente no início dos anos de 1990 é que esse cenário começou a mudar. Em 17 de maio daquele ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS), retirou a homossexualidade do rol de doenças descritos pela instituição. Por outro lado, o estigma social ainda existia e era necessário conquistar mais espaço.

Casamento homoafetivo, adoção de crianças, mudança de nome e gênero nos documentos de pessoas trans sem a necessidade de cirurgia e a criminalização da LGBTfobia foram algumas das conquistas dos últimos anos. Essas discussões já eram antigas, mas a força de ativistas e entidades LGBT+ que se consolidaram no Brasil está conseguindo avanços notáveis.

A luta continua

A comunidade LGBT sabe de suas conquistas e se orgulha disso. Por outro lado, no Brasil, ainda temos muito o que lutar. Todo o amparo que temos hoje é resultado de uma busca árdua e difícil por igualdade que custou o sangue de muitas pessoas da comunidade LGBT+. Apesar da criminalização, a repressão social ainda existe e ameaça constantemente a integridade de LGBTs.

No Brasil, o número de crimes motivados por LGBTfobia é preocupante. Em 2018, foram contabilizadas 420 vítimas fatais de violência no Brasil. Em 2019, entre janeiro e 15 de maio, foram contabilizados mais de 140 casos de morte. Esses dados correspondem à um LGBT morto a cada 28 horas.

Apesar das leis de amparo, que como a criminalização da LGBTfobia são muito recentes, o fim da violência depende de outros fatores. O machismo e o racismo ainda imperam em  uma sociedade conduzida por grande conservadorismo que, se não enfrentado, pode retroceder em todos os direitos conquistados não só para LGBTs. A educação, uma das maiores apostas para o fim da violência em vários setores sociais, precisa ser trabalhada para a diversidade. Embora a onda conservadora lute para que assuntos de diversidade não sejam debatidos, a resistência existe e está a cada dia mais forte e disposta a lutar, como sempre enfrentou os obstáculos durante mais de 50 anos.

 

 

 

Raiza Luara

SOBRE O AUTOR

Raiza Luara

Cientista social, professora, feminista, lésbica, redatora da Lado A e empreendedora.

COMPARTILHAR

TAGS


COMENTÁRIOS