Declaração estúpida de Eduardo Bolsonaro sobre gays prova que ele não sabe o que é amor

Allan Johan 11 de Dezembro, 2019 11h05m

Em uma surpreendente mas não muito inesperada declaração neste final de semana, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, mais conhecido como zero um, reforçou mais uma vez a sua notável ignorância. O parlamentar, filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, afirmou em entrevista para um canal de notícias de Israel, que o amor entre pessoas do mesmo sexo se compara a uma relação entre ele e seu cachorro.

Pois bem, filho de pais separados e com ideias obtusas sobre conceito de família e do papel da mulher, o senador, que se casou no ano passado, não parece entender muito nem do amor e nem da sua relação com seu animal de estimação. Supostamente ele ama seu cachorro, já que fez a declaração. Mas o amor precisa ter retorno e não podemos afirmar que um animal que é mantido em cativeiro, dependendo de seu dono ou tutor para alimentá-lo, é a melhor manifestação de amor recíproco familiar, no máximo uma amizade ou amor por um animal.

O deputado, que no passado teve problemas com uma ex namorada, a jornalista Patrícia Lelis, xingou a moça de todos os nomes na rede social após brigarem e a ameaçou de morte, segundo o processo que ela abriu contra ele. Ela rebateu nas redes sociais afirmando que ele objetifica e generaliza as mulheres, após o então deputado federal dizer que “mulheres de esquerda não merecem respeito”. E assim ele classifica quem merece ou não o seu respeito, por conveniência ou distanciamento do seu próprio modelo de pensamento. “Eu não me importo. Se você diz que é necessário apenas amor para ser uma família, você dirá que eu e meu cachorro, eu amo o meu cachorro, somos uma família”, declarou o deputado.

Obviamente o amor não é o único elemento para constituição familiar, mas comparar a homoafetividade à amizade com um canino mostra o grau de desumanização com que o parlamentar trata a comunidade LGBT. Isso diz muito mais dele do que teoriza sobre a homoafetividade.

O STF já regulamentou a união entre pessoas do mesmo sexo no país. A questão é superada mas aparentemente o deputado defende o conceito de família tradicional da qual nem ele mesmo faz parte, já que seu pai casou três vezes. Ele comete o erro de relativizar sobre o amor, conceito fundador de todas as religiões.

Ele não entende de amor, muito menos de família. Viveu tantos rompimentos e modelos autoritários que a obediência do cão para ele é o que ele entende como amor. A fidelidade canina é o que ele espera de uma família. Não sabe definir o que é amor e uma relação entre duas pessoas adultas baseada além do sentimento no desejo de estar juntos e constituir uma relação.

Ele mesmo não se pronunciou sobre o assunto e tratou de retirar o trecho da entrevista nas postagens que fez nas suas redes sociais. Provavelmente não entendeu a pergunta do entrevistador, que se referiu a “comunidade gay” e não ao “casamento gay”, do qual ele discorreu. Muito lembra o “erro” que o pai cometeu ao falar da cantora “Preta Gil”. Em 2011, no programa CQC, ao ser perguntado como reagiria se tivesse um dos filhos se casado com uma mulher negra. Na declaração, pela qual o pai foi condenado a pagar indenização de 150 mil reais por racismo e homofobia, Bolsonaro disse que isso não aconteceria pois eles tiveram “uma boa educação”. “Eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o seu”, afirmou o então deputado, hoje presidente.

Seja por ignorância ou dissimulação, a “família Bolsonaro” insiste em atacar quem pensa diferente deles. Um clã, uma quadrilha, voltada a atacar as minorias, porque para governar e respeitar o Brasil está mostrando que eles não vieram. Parecem que estão com tempo sobrando demais e não se preocupam em agir com a dignidade do cargo qual ocupam e agem como crianças da quinta série.

 

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SOBRE O AUTOR

Allan Johan

O jornalista Allan Johan é fundador da Revista Lado A, militante LGBTI e primeiro Coordenador da Diversidade Sexual da Prefeitura Municipal de Curitiba entre março de 2017 até maio de 2020.


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